terça-feira, 4 de agosto de 2009

OS POETAS DA PAIXÃO

Soneto XVII
Pablo Neruda

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.




Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Companheiros na literatura, no engajamento socialista e nos excessos políticos e gastronômicos, Vinicius de Moraes e Pablo Neruda cultivaram uma longa amizade, até a morte do poeta chileno em setembro de 1976, alguns dias depois do golpe que derrubou Allende. O amor foi a base de inspiração dos dois, através das mulheres que amaram, suas musas. Isso levou os dois a serem chamados de os POETAS DA PAIXÃO.

Esses são dois dos meus sonetos preferidos que, coincidentemente, foram difundidos através do cinema e da música. Como esquecer a paixão contida em Patch Adams quando ele declama esse poema para sua amada e quem nunca se apaixonou ao som da voz de Vinicius declamando o Soneto de Fidelidade na música "Eu sei que vou te amar". São momentos realmente apaixonantes.

Os gregos não escreviam obituários. Quando um homem morria, faziam uma pergunta: "Ele viveu com paixão?" Com esses dois, não temos dúvida quanto a resposta.

Nenhum comentário: