Pablo Neruda
Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Companheiros na literatura, no engajamento socialista e nos excessos políticos e gastronômicos, Vinicius de Moraes e Pablo Neruda cultivaram uma longa amizade, até a morte do poeta chileno em setembro de 1976, alguns dias depois do golpe que derrubou Allende. O amor foi a base de inspiração dos dois, através das mulheres que amaram, suas musas. Isso levou os dois a serem chamados de os POETAS DA PAIXÃO.
Esses são dois dos meus sonetos preferidos que, coincidentemente, foram difundidos através do cinema e da música. Como esquecer a paixão contida em Patch Adams quando ele declama esse poema para sua amada e quem nunca se apaixonou ao som da voz de Vinicius declamando o Soneto de Fidelidade na música "Eu sei que vou te amar". São momentos realmente apaixonantes.
Os gregos não escreviam obituários. Quando um homem morria, faziam uma pergunta: "Ele viveu com paixão?" Com esses dois, não temos dúvida quanto a resposta.
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